Hoje quando eu acordei a única coisa que desejei foi um pote de
mel pra seguir o arco-íris. Era um daqueles dias preto e branco e era de cor
que eu precisava. Abri os olhos e a janela. Só tinha chuva lá fora. E aqui
dentro? Era só eu. Fiz-me arco-íris, fiz-me doce, fiz-me mel.
Na verdade precisava me refazer, me virar do avesso.
Precisava de tinta e papel. Há quanto tempo não ficava comigo? Ser o seu próprio
sol às vezes dói, mas ao mesmo tempo cicatriza a dor. Ser é uma ferida
profunda. Não ter é ilusão.
Descartar a aflição, costurar
chagas abertas... Não há como fugir, não há porque não fazê-los. Vamos,
mostre-me suas feridas. Não esconda esse coração. Há petrificação? Há larvas?
Há perfurações? Cada um deve seguir em busca da chuva certa para inundar. E há um pote de mel no fim de tudo isso, eu sei.
Cada dia é um novo mundo que se desfaz e refaz só pra gente.
Em uma daquelas tardes eu abri a
janela e um conjunto de cores invadiu minha sala. O chão estava repleto de luz.
Debrucei-me e toquei-as. Todas elas. Perpassavam minhas mãos e minha alma. Era
uma imensidão de sol que transcorria meu ser. Naquele momento eu fui, eu era... Hoje eu sou.
Nina
Texto escrito ouvindo a música "Rain", dos Beatles.